Em Maio de 2021, dentro de um par de meses, passam 75 anos sobre a conquista do nosso primeiro Campeonato Nacional disputado em forma de poule. Uma campanha épica permitiu ao Clube de Futebol Os Belenenses manifestar a sua qualidade técnica e uma superioridades desportiva, até então apenas desfeita por forças invisíveis e por um “sistema” que sabia bem controlar essas forças. Na revista Stadium de 29 de maio de 1946 podia ler-se o seguinte artigo, em jeito de conclusão sobre o campeonato acabado de disputar:

“ENFIM, acabou-se o Campeonato nacional de futebol de 1945-46, que, durante mais de cinco meses, interessou vivamente todos quantos se interessam pelo movimento do futebol. Acabou bem, com a vitória do Belenenses que teve um fim de festa surpreendente! Tendo começado hesitante, após um torneio lisboeta brilhantíssimo, e atravessado uma fase má intermediária, o clube de Belém lavou-se de todos os defeitos e faltas com um ponto final que constituiu um dos melhores sprints do futebol português.

Em certo momento coube-lhe defrontar o Benfica, que se apresentava pletórico de jogo e rico de energias. Vencendo-o em bolas e em jogo, o Belenenses como que recuperou novas energias. Assim, todos os adversários que, sucessivamente, terçaram armas com ele – foram vencidos. E essas lutas adquiriram rara beleza porque os adversários procuraram dificultar ao máximo a conquista do título. A última jornada sintetiza bem o que foram as pugnas derradeiras. Basta dizer-se que o Belenenses só conseguiu arrancar o triunfo quase no fim – depois de um sofrimento atroz… Para muitos, os escolhos que o Belenenses encontrou no seu caminho diminuem a grandeza do seu belo triunfo. Para nós, indiferentes a cores no nosso papel de crítico, isso avoluma uma das mais belas vitórias de todos os tempos. A verdade, nua e crua, é que o Belenenses nos surge na competição como o team mais apetrechado para o título de campeão – o que não significa que este não pudesse emoldurar o distintivo do Benfica. O Belenenses foi um grande grupo! Acusando uma linha de harmonia que constitui o segredo do seu êxito. Com um trio defensivo seguríssimo (o número de bolas sofridas depõe a seu favor), há em todos os seus sectores a interdependência que caracteriza os grandes onzes de clube. Da linha medular pode afirmar-se que é a mais equilibrada e homogénea, aquela em que as qualidades dos seus componentes tapam os seus defeitos. Quando passamos para a linha da frente, ainda encontramos motivos de aplauso, embora muitos a julguem (talvez com razão) o compartimento menos apto do conjunto. Mas um grupo é um todo, e deve ser observado neste ponto de vista. Além de tudo, o Belenenses é o team que joga mais em conjunto e mais conscientemente pratica um plano de futebol estudado e analisado em minúcias. Os seus componentes são também executantes de mestria, que se integram no plano e lhe dão realização com facilidade de movimentos. Mais. O team de Belém consegue dar ao seu futebol um cunho de habilidade que não é mais do que a arte no jogo. Deste modo, em dia de acertos, o Belenenses parece-nos um team em que tudo está bem e no seu lugar, e em que todos os jogadores contribuem para a unidade do conjunto. Chegando ao fim, o Belenenses marcava na tabela 38 pontos, isolado, com 18 vitórias, três empates e duas derrotas, 74 bolas a favor contra 21. Quem poderá contestar o mérito do seu triunfo!”